Aparelho ortodôntico não trata DTM

Será que a má posição dos dentes na arcada é capaz de causar disfunção temporomandibular (DTM)? Será que corrigindo os dentes com próteses, ou alinhando os dentes com aparelho ortodôntico, conseguiremos melhorar os sinais e sintomas de DTM?

De fato, durante muito tempo, tratamentos protéticos e ortodônticos foram utilizados como forma de tratar as DTMs. Acreditava-se que a ausência de dentes posteriores, discrepâncias entre as arcadas dentárias e a má posição dos dentes na arcada eram responsáveis pelo surgimento de sintomas de dores orofaciais e disfunção temporomandibular.

Desta forma, grandes tratamentos reabilitadores eram feitos com o objetivo de tratar ou prevenir sinais e sintomas de disfunções musculares e articulares na região da face.

Com o avanço das pesquisas na área de dor orofacial e DTM houve uma mudança de paradigma. Hoje não é indicado fazer tratamentos ortodônticos com a finalidade de tratar qualquer tipo de DTM.

Pesquisas de acompanhamento longitudinal dos pacientes com DTM observaram que os pacientes que recebiam tratamento não invasivo como orientações para controle dos sintomas, medicações, placas oclusais e fisioterapia, tinham comportamento semelhante àqueles que eram submetidos a tratamentos invasivos e irreversíveis como complemento.

Os estudos são falhos em apontar uma relação de causa/efeito entre a oclusão e a DTM. Também ficou claro (em várias pesquisas) que tratamentos irreversíveis não conseguem controlar os sinais e sintomas de DTM.

A causa da disfunção temporomandibular é multifatorial, isto é, há mais de um fator responsável pelo seu surgimento. Fatores biológicos, traumas, hábitos parafuncionais, fatores psicossociais são fatores contribuintes para as DTMs.

O tratamento ortodôntico e o tratamento protético restabelecem uma relação mais harmônica entre os dentes e as arcadas, mas não deve ser indicado como tratamento para a disfunção temporomandibular.

O tratamento das DTMs deve ser realizado por um profissional dentista especialista nessa área. O tratamento também deverá ser sempre apoiado em evidência científica séria e bem fundamentada.

Referências:

Conti, Paulo César Rodrigues. DTM: Disfunções Temporomandibulares e dores orofaciais: aplicação clínica das evidências científicas.Maringá, PR: Dental Press, 2021.

Conti A, Freitas M, Conti P, Henriques J, Janson G. Relationship between signs and symptoms of temporomandibular disorders and orthodontic treatment: a cross-sectional study. Angle Orthod. 2003 Aug;73(4):411-7.